sexta-feira, 18 de março de 2016

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terça-feira, 1 de março de 2016

Se creio logo penso


Por Jânsen Leiros Jr.

Muitos pensam
que quem crê
não pensa
e se pensa
dispersa
Uma crença 

Muitos outros
creem
que os que pensam
vivem
crendo em nada
tendo
apenas certos
pensamentos vãos

Mas se penso creio
e se creio penso
não por consequência
insistência e dom
Pois se pensar
não me impede orar
muito menos crer
me bloqueia ler
Acreditar não me 
emburrece
Pensar não me faz 
herege

E se penso logo existo
se creio logo penso
E como penso
E como creio
Só não mudo a ordem
não sou cego à sorte
Pois se foi pensando 
que eu cri em Deus
foi crendo n'Ele que 
pensei melhor
Maio 2015

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Se estamos convencidos, convertidos?

Por Jânsen Leiros Jr.

Revisado e ampliado em 09/05/2024

 1 Ora, a fé é a certeza de que haveremos de receber o que esperamos, e a prova daquilo que não podemos ver. 2 Porquanto foi mediante a fé que os antigos receberam bom testemunho.

3 Pela fé compreendemos que o Universo foi criado por intermédio da Palavra de Deus e que aquilo que pode ser visto foi produzido a partir daquilo que não se vê. "

     Hebreus 11:1-3 - RA

 

Em um mundo cada vez mais orientado pelo pragmatismo e pela busca por resultados tangíveis, a importância de reafirmar o caráter incondicional da fé no contexto da redenção torna-se ainda mais evidente. Nossa sociedade contemporânea valoriza tudo em termos de sua utilidade e retorno, onde cada ação é frequentemente avaliada com base em sua eficácia imediata. Nesse ambiente a fé parece deslocada, pois é desafiada a justificar-se por meio de uma lógica racional e coerente, que se alinhe aos interesses superficiais e imediatistas, ou mesmo ideológicos predominantes. A sabedoria popular nos lembra da importância de ter fé em alguma coisa, mas em um mundo guiado pela razão e pela utilidade, o significado real de fé pode se perder.

Entretanto, na prática, surge a questão crucial: em que devemos nos basear, para que a defesa de nossas crenças seja capaz de satisfazer tanto a necessidade do sagrado em nossa consciência, quanto conferir um certo status de admiração e respeito pela racionalidade da fé? É aqui que a complexidade se revela. Por mais que se busque reunir comprovações para aquilo em que se acredita, por mais que se organizem argumentações criteriosas, a fé transcende a mera evidência empírica. É um terreno onde a racionalidade se encontra com o mistério, onde a certeza se mistura com a esperança, e onde a compreensão se depara com o desconhecido.

Portanto, é necessário ir além da simples busca por evidências tangíveis. A defesa daquilo em que se crê requer uma abordagem que reconheça a natureza intrínseca da fé, que vai além da lógica puramente racional. É preciso cultivar uma compreensão mais profunda e uma disposição para explorar os mistérios que permeiam a fé. Somente assim podemos encontrar uma verdadeira solidez naquilo que professamos, uma convicção que vai além das limitações da razão e se estende até as profundezas do sagrado[1].

Convertidos porque convencidos?

Convencimento[2]. Essa palavra parece dominar os discursos e as interações, exercendo um poder sedutor sobre aqueles que buscam impor suas crenças aos outros. Quanto mais convincente alguém se mostra, mais atraente se torna sua mensagem. E essa atração, por sua vez, pode levar as massas a serem facilmente manipuladas. A busca pelo convencimento, muitas vezes, está intrinsecamente ligada ao desejo de poder, alimentando uma competição entre aqueles que defendem suas próprias crenças em detrimento das dos outros.

Não é preciso ir muito longe para perceber essa dinâmica em ação. Basta dar uma rápida olhada na internet, nas diversas comunidades teológicas, evangélicas, e nos inúmeros vídeos no Youtube, onde líderes religiosos e estudiosos debatem incessantemente ideias e interpretações, utilizando textos bíblicos e argumentos diversos para convencer uns aos outros e aos espectadores de suas visões pessoais. Às vezes, essas discussões se baseiam em interpretações divergentes de um mesmo texto bíblico, cada uma forjada conforme os interesses particulares de quem a defende.

Se nos colocássemos hipoteticamente entre esses defensores de crenças, e dependêssemos de suas argumentações para decidir em quem acreditar, seríamos influenciados, no final de tudo, pelo poder persuasivo daquele que nos parecesse mais convincente. O vencedor dessa batalha pela nossa mente nos convenceria da razoabilidade de suas afirmações, de acordo com nossa percepção mais honesta. No entanto, isso não significa que nosso coração estaria igualmente cativado. As emoções muitas vezes fogem à lógica racional.

A pergunta que surge então é: se fôssemos convencidos, estaríamos verdadeiramente convertidos? A resposta não é tão simples quanto parece. Ao longo dos séculos, a humanidade buscou incessantemente por provas que sustentassem suas crenças em todos os aspectos da vida. A necessidade de ver para crer[3] sempre foi uma poderosa força motriz por trás da dedicação aos questionamentos e investigações. Mas será que essa busca por evidências é realmente necessária para uma conversão genuína?

Convencidos inalterados

Com o avanço da tecnologia e as descobertas científicas cada vez mais precisas e inovadoras, somos constantemente confrontados com novidades que desafiam conjuntos de crenças estabelecidos anteriormente, inclusive pressupostos científicos. As evidências que anteriormente sustentavam teorias e crenças são frequentemente substituídas por novas descobertas e probabilidades mais precisas e assertivas. Embora essas novas certezas possam parecer inquestionáveis, elas sozinhas não têm o poder de transformar totalmente nossas atitudes e costumes previamente estabelecidos. Isso levanta a questão: podemos confiar plenamente nas informações científicas para orientar nossas crenças e comportamentos?

A ciência tem sido incisiva ao alertar sobre os malefícios do tabagismo, por exemplo, mas mesmo assim, o número de fumantes em todo o mundo continua preocupante[4], incluindo profissionais da saúde e cientistas[5]. Da mesma forma, as pesquisas médicas modernas têm destacado os perigos iminentes da obesidade e de certos hábitos alimentares, no entanto, observamos um aumento significativo no índice de obesidade mórbida em todo o mundo, inclusive em países desenvolvidos, onde as informações são amplamente divulgadas[6].

Diante dessas informações, surge a pergunta: por que, mesmo conscientes dos riscos, muitas pessoas continuam mantendo hábitos prejudiciais à saúde? Será que números e documentários convincentes não são suficientes para persuadi-las a mudar de comportamento? Embora muitos reconheçam a gravidade dos problemas relacionados ao tabagismo e à obesidade, suas condutas continuam inalteradas, colocando-os em uma rota de risco e perigo iminente. Isso nos leva a refletir: o convencimento baseado em evidências não é necessariamente equivalente à conversão de comportamento.

A fé como transformadora

 

6 Em verdade, sem fé é impossível agradar a Deus; portanto para qualquer pessoa que dele se aproxima é indispensável crer que Ele é real e que recompensa todos quantos se consagram a Ele."

     Hebreus 11:6 - KJA

Quando nos deparamos com a revelação de Deus ao longo da narrativa bíblica, não encontramos uma tentativa de tornar Sua existência provável, nem mesmo ao grupo específico designado como Seu povo. A existência de Deus é tratada como um axioma[7], um princípio básico não problematizado pela Bíblia. Ela parte do pressuposto de que aqueles que buscam se aproximar de Deus já creem em Sua existência, e assim, concentra-se revelar Sua natureza, Seus atributos e Seu propósito à humanidade, independentemente do grau de convencimento de cada indivíduo.

Perdoem-me pela analogia improvisada, mas a considero bastante adequada ao que desejamos apresentar. É como em um aplicativo de mensagens pela internet. Duas pessoas iniciam uma conversa interessante e agradável sem trocar fotos pessoais. Ao longo do diálogo, revelam-se gostos, preferências, visões de mundo. Mesmo sem nunca terem se visto, elas se encantam mutuamente. Com o tempo, percebem que não conseguem mais viver uma sem a outra. A conexão entre elas vai além do visual; é uma afinidade de essências que se revela mesmo sem rosto ou silhueta. Esse encontro virtual, às cegas, culmina em amor.

De maneira semelhante, o propósito da Bíblia é revelar gradual e harmoniosamente o Criador, de modo que o desvelar de Sua essência desperte o interesse pessoal por Ele. Deus é apresentado como alguém amoroso e zeloso, que busca cada indivíduo, movendo céus e terras para mantê-lo próximo. Diante dessa revelação de amor, nenhuma prova, argumento ou racionalização pode afastar ou fazer desistir aqueles que amorosamente se entregam. Porque a devoção que nasce em resposta ao amor divino transcende qualquer explicação ou argumento.

O amor por sustentação

 

38 Portanto, estou seguro de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, 39 nem altura nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá nos afastar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor."

     Romanos 8:38-39 - KJA

Portanto, a Bíblia revela o encontro de Deus com a humanidade, apresentando uma narrativa que descreve um Criador cuidadoso e dedicado. Ele é detalhista nas condições de sustentabilidade e autonomia, gerando um ser humano cheio de potencialidades. A relação entre Deus e Sua criação é próxima e interativa, mas de forma alguma compulsória, já que a humanidade tem acesso a alternativas. Sim, porque o verdadeiro amor só pode florescer em um ambiente de plena liberdade, onde há a capacidade de escolha entre amar e não amar[8].

Assim, a Bíblia avança pela história, revelando uma humanidade rebelada, desejosa de independência para seguir seus próprios interesses. O homem abandona o Criador, supondo que Ele lhe esconde algo, uma capacidade encoberta de ser tão divino quanto Deus. Essa busca pela independência leva à rejeição a Deus e a uma relação com Ele.

Longe de Deus e exilada de Sua presença, a humanidade caminha errante, alternando entre aproximação e afastamento do Criador. Mesmo quando vira as costas para Ele, Deus continua desejoso de resgatar o homem, buscando-o incansável e incondicionalmente.

A narrativa bíblica subverte a lógica das relações, onde o ofensor geralmente busca o ofendido para restaurar a relação. Aqui, Deus, o ofendido, faz o caminho em direção à humanidade. E na impossibilidade do homem se tornar Deus, é Deus quem se torna homem, redimindo Sua criação por meio de Jesus Cristo[9].

Após o registro histórico na Bíblia, inaugura-se um tempo de salvação, onde a relação entre Deus e a humanidade é fruto da decisão divina de nos amar. Agora, desejamos ser como Ele, não para substituí-Lo, mas para estar com Ele. E tudo o que nos tornamos, seja o que for, é unicamente n'Ele, pois é Ele quem opera em nós tanto o querer quanto o efetuar[10].

Portanto, mesmo resumindo a revelação divina contida na Bíblia, não há lugar para provas irrefutáveis. A Bíblia não trata de regras ou filosofias de vida, mas sim do amor de Deus que nos atrai. Por isso, bem-aventurados aqueles que, mesmo sem ver, creem[11].


[1] O pensamento expresso neste parágrafo em que enfatiza a necessidade de ir além da busca por evidências tangíveis e reconhecer a natureza intrínseca da fé, está alinhado com as ideias de vários teólogos e pensadores ao longo da história. Alguns deles incluem:

1.       Søren Kierkegaard: O filósofo dinamarquês abordou extensivamente o tema da fé e da racionalidade em suas obras, especialmente em "Temor e Tremor" e "O Conceito de Angústia". Ele defendeu a ideia de que a fé vai além da razão e que a verdadeira fé envolve um salto para o desconhecido, indo além das evidências racionais.

2.       Blaise Pascal: Em suas "Pensées", Pascal discute a relação entre fé e razão, argumentando que a fé é uma questão do coração, que vai além do entendimento puramente intelectual. Ele é famoso por sua defesa do "cálculo das probabilidades" em relação à crença em Deus, mas também reconhece os limites da razão na compreensão das verdades religiosas.

3.       Paul Tillich: O teólogo existencialista alemão Paul Tillich abordou a interação entre fé e razão em várias de suas obras, como "A Dinâmica da Fé" e "O Coração da Religião". Ele argumentou que a fé não é oposta à razão, mas transcende as limitações da razão, oferecendo uma perspectiva mais profunda da realidade.

4.       Rudolf Bultmann: Como proponente da chamada "desmitologização" do Novo Testamento, Bultmann enfatizou a importância de interpretar os textos religiosos à luz da compreensão contemporânea. No entanto, ele também reconheceu a dimensão da fé que vai além da razão, especialmente em sua obra "Fé e Compreensão".

[2] "Convencimento" se refere ao processo de persuadir alguém a acreditar em algo, geralmente por meio de argumentos, evidências ou raciocínio lógico. É a ação de convencer ou persuadir alguém sobre a veracidade, importância ou validade de uma ideia, opinião, crença ou ponto de vista específico. O convencimento pode envolver apresentar fatos, dados, exemplos ou argumentos que apoiem a posição defendida, com o objetivo de influenciar a mente ou as convicções da outra pessoa.

[3] A expressão "ver para crer" reflete um princípio epistemológico que enfatiza a importância da evidência visual ou experiência direta para acreditar em algo. Sua origem pode ser rastreada até tempos antigos, e é frequentemente associada ao ceticismo e à necessidade de prova tangível para validar uma afirmação ou crença.

A ideia de que a observação direta é necessária para acreditar em algo pode ser encontrada em várias culturas e contextos ao longo da história da humanidade. No entanto, é difícil determinar uma origem exata, pois ela está presente em diferentes tradições filosóficas, religiosas e culturais em todo o mundo.

Na sociedade ocidental, essa ideia tem sido associada a figuras como São Tomé, um dos apóstolos de Jesus Cristo, que, de acordo com a tradição cristã, duvidou da ressurreição de Jesus até ver e tocar as feridas em suas mãos. Essa história, registrada nos Evangelhos do Novo Testamento, pode ser vista como uma ilustração do princípio do "ver para crer".

No entanto, o princípio subjacente ao "ver para crer" é universal e pode ser observado em várias culturas ao longo da história, refletindo a tendência humana de confiar na experiência direta e na evidência sensorial como base para a crença e o conhecimento.

[4] Apesar dos esforços em conscientizar sobre os malefícios do tabagismo e implementar medidas para reduzir o seu consumo, os números ligados ao tabagismo têm variado ao longo do tempo e em diferentes regiões do mundo. Aqui estão algumas tendências gerais:

1.       Declínio em alguns países desenvolvidos: Em muitos países desenvolvidos, tem havido uma diminuição significativa no número de fumantes ao longo das últimas décadas. Isso pode ser atribuído a uma combinação de medidas, como restrições à publicidade de produtos de tabaco, aumento de impostos sobre o tabaco, proibição do fumo em locais públicos, programas de cessação do tabagismo e uma mudança cultural em relação ao tabagismo.

2.       Estabilização ou aumento em alguns países em desenvolvimento: Por outro lado, em alguns países em desenvolvimento, os índices de tabagismo podem ter se estabilizado ou até mesmo aumentado. Isso pode ser devido a uma série de fatores, incluindo o aumento da urbanização, a influência da indústria do tabaco, a falta de regulamentações rigorosas e a disponibilidade de produtos de tabaco a preços acessíveis.

3.       Variação entre grupos demográficos: Os índices de tabagismo podem variar significativamente entre diferentes grupos demográficos, como idade, gênero, nível socioeconômico e localização geográfica. Por exemplo, enquanto o tabagismo entre os jovens pode estar em declínio em alguns lugares, pode estar aumentando entre determinados grupos de adultos ou em áreas específicas.

4.       Desafios persistentes: Apesar dos esforços para reduzir o tabagismo, ainda existem desafios significativos. A indústria do tabaco continua a usar estratégias de marketing agressivas, especialmente em países em desenvolvimento, onde as regulamentações podem ser mais fracas. Além disso, a dependência física e psicológica do tabaco pode dificultar a cessação do hábito para muitas pessoas.

[5] Embora os profissionais de saúde e cientistas tenham acesso privilegiado a informações científicas sobre os danos do tabagismo à saúde, ainda existem casos de tabagismo dentro desses grupos. No entanto, é importante considerar algumas nuances:

1.       Profissionais de saúde: Estudos mostram que, embora a taxa de tabagismo entre profissionais de saúde tenha diminuído ao longo do tempo, ainda há uma porcentagem significativa de fumantes nessa categoria. Alguns profissionais de saúde podem começar a fumar antes de iniciar sua formação ou carreira, e a dependência do tabaco pode persistir mesmo após receberem educação sobre os danos do tabagismo. Além disso, o estresse e as demandas da profissão podem tornar difícil para alguns profissionais de saúde abandonarem o hábito.

2.       Cientistas e pesquisadores: Assim como nos profissionais de saúde, também há casos de tabagismo entre cientistas e pesquisadores. Embora possa ser esperado que indivíduos nesses campos tenham um entendimento mais profundo dos efeitos do tabagismo, eles não estão imunes à dependência do tabaco ou aos fatores psicossociais que podem levar ao tabagismo. Além disso, o ambiente de trabalho em algumas instituições acadêmicas ou de pesquisa pode ser estressante, o que pode contribuir para o tabagismo.

No entanto, é importante notar que a taxa de tabagismo entre profissionais de saúde e cientistas tende a ser menor em comparação com a população em geral, devido ao seu maior nível de conscientização e acesso a recursos para cessação do tabagismo. Muitas instituições de saúde e organizações profissionais oferecem programas de apoio à cessação do tabagismo para seus funcionários, o que pode ajudar a reduzir a prevalência do tabagismo dentro desses grupos.

[6] Os números relacionados à obesidade têm aumentado mundialmente nas últimas décadas. A obesidade é considerada uma epidemia global, afetando não apenas países desenvolvidos, mas também economias emergentes e países em desenvolvimento.

A obesidade mórbida, que é uma forma mais grave de obesidade caracterizada por um índice de massa corporal (IMC) muito elevado, também tem sido uma preocupação crescente em todo o mundo. Os números relacionados à obesidade mórbida têm acompanhado a tendência de aumento da obesidade em geral.

Globalmente, os casos de obesidade mórbida têm aumentado, especialmente em países onde há maior acesso a alimentos ultraprocessados, dietas ricas em calorias e estilos de vida sedentários. Esse aumento está relacionado não apenas aos riscos para a saúde física, como doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e certos tipos de câncer, mas também aos impactos psicossociais, como estigma e discriminação.

Embora haja uma conscientização crescente sobre os riscos associados à obesidade mórbida e esforços para promover intervenções, como cirurgia bariátrica e programas de gerenciamento de peso, ainda há desafios significativos na redução desses números. Isso se deve, em parte, à complexidade da obesidade mórbida, que envolve uma interação complexa entre fatores genéticos, ambientais, comportamentais e sociais.

Portanto, apesar dos esforços contínuos para combater a obesidade e a obesidade mórbida, os números ainda estão em ascensão em muitas partes do mundo, destacando a necessidade de estratégias de saúde pública mais eficazes e abrangentes para enfrentar esse problema de saúde global.

[7] Um axioma é uma proposição ou princípio considerado autoevidente e universalmente aceito, sem necessidade de demonstração ou prova. Em outras palavras, é uma verdade básica ou uma premissa fundamental que é assumida como verdadeira sem precisar ser questionada ou justificada. Axiomas são frequentemente utilizados como base para construir sistemas lógicos, teorias matemáticas ou sistemas filosóficos, fornecendo os alicerces sobre os quais outros conhecimentos são construídos.

[8] A ideia expressa no parágrafo acima está alinhada com o pensamento de diversos teólogos e pensadores ao longo da história. Alguns deles incluem:

1.       Agostinho de Hipona (Santo Agostinho): Em suas obras "Confissões" e "A Cidade de Deus", Santo Agostinho discute sobre a relação entre Deus e a humanidade, enfatizando o amor divino e a liberdade humana.

2.       Tomás de Aquino: Em suas obras filosóficas e teológicas, como "Suma Teológica", Tomás de Aquino aborda a relação entre a liberdade humana e a vontade divina, destacando a importância da liberdade para o amor genuíno.

3.       Karl Barth: O teólogo suíço Karl Barth explorou a natureza do relacionamento entre Deus e o homem em sua obra principal "Igreja Dogmática", enfatizando o amor e a liberdade na relação com Deus.

4.       Dietrich Bonhoeffer: Bonhoeffer, em obras como "Ética", discute a importância da liberdade e da responsabilidade moral na relação com Deus e na vivência da fé cristã.

5.       Paul Tillich: O teólogo existencial Paul Tillich escreveu extensivamente sobre a natureza do amor divino e a liberdade humana em obras como "A Coragem de Ser" e "Dinâmica da Fé".

Esses teólogos e pensadores compartilham da ideia de que o verdadeiro amor de Deus só pode ser experimentado em um contexto de liberdade humana, onde há a capacidade de escolha entre aceitar ou rejeitar esse amor. Eles exploram esses conceitos em suas obras, fornecendo insights profundos sobre a natureza do relacionamento entre Deus e a humanidade.

[9] Este parágrafo ecoa as reflexões de diversos teólogos e pensadores ao longo da história. Aqui estão alguns exemplos:

1.       Søren Kierkegaard: O filósofo dinamarquês Kierkegaard abordou a ideia da inversão das relações humanas em sua obra "Temor e Tremor". Ele explorou a noção de que o divino muitas vezes se manifesta de maneiras paradoxais e inesperadas na experiência humana.

2.       Martinho Lutero: O reformador protestante Martinho Lutero discutiu a doutrina da encarnação em suas obras, destacando o papel central de Jesus Cristo na reconciliação entre Deus e a humanidade. Ele enfatizou a iniciativa divina na salvação do homem, em vez da busca humana por Deus.

3.       Karl Barth: Novamente, o teólogo suíço Karl Barth é relevante aqui. Em sua "Igreja Dogmática", Barth enfatizou a ação de Deus em direção à humanidade e a importância da encarnação como meio de redenção.

4.       Dietrich Bonhoeffer: Bonhoeffer, em suas obras como "Vida em Comunhão", também abordou a dinâmica da relação entre Deus e o homem, enfatizando a iniciativa divina na reconciliação e redenção.

5.       Jürgen Moltmann: O teólogo alemão Jürgen Moltmann explorou a teologia da esperança e da libertação em obras como "Teologia da Esperança" e "O Deus Crucificado", destacando o papel transformador de Deus na história humana.

Esses pensadores compartilham da ideia de que a narrativa bíblica subverte as normas humanas de relacionamento, mostrando Deus como aquele que toma a iniciativa de restaurar a relação com a humanidade. Eles oferecem insights profundos sobre a natureza do divino e sua interação com o mundo humano.

[10] Filipenses 2:13

[11] João 20:29

sábado, 30 de janeiro de 2016

Certezas e Segurança; a fé criada em gaiolas

Por Jânsen Leiros Jr.

Revisado e ampliado em 09/05/2024

 

“Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.

Os homens preferem as gaiolas ao voo. São eles mesmos que constroem as gaiolas onde passarão as suas vidas”

                      Rubem Alves em Religião e Repressão

 

Até hoje, em todos os grupos sociais que frequentei, não encontrei ninguém que dissesse preferir prisão à liberdade. Ser livre é preferência universal. É verdade. A liberdade, que já foi cantada em verso, prosa e samba enredo, sempre esteve entre os mais pretendidos e legítimos anseios do ser humano. Já foi musa de guerras. E por ela legiões intermináveis de pessoas já se sacrificaram. A liberdade é um desejo natural de todo o indivíduo.

Há, porém, armadilhas que volta e meia armamos contra nós mesmos. Elas nos prendem em gaiolas construídas com as sutilezas do conforto, num ambiente de certezas e seguranças que acreditamos ter alcançado, a bem de nossa interminável busca por liberdade. Então o que era para ser um grito de liberdade, torna-se o arfar por um cantinho seguro no fundo dessas gaiolas. A incoerência é mesmo um traço latente em toda a humanidade. Ora, se o que cremos é o que vemos, como esperaremos?[1]

Uma das gaiolas históricas mais comuns são os dogmas, quando vistos, é claro, por uma perspectiva restritiva ou inflexível. Eles podem e de fato limitam o pensamento e restringem a liberdade de reflexão e questionamento. Assim como as gaiolas representam a segurança das certezas estabelecidas, os dogmas podem oferecer uma sensação de estabilidade e conforto para alguns, mas também podem limitar a capacidade de crescimento espiritual e intelectual, impedindo a exploração de novas ideias e perspectivas, ou mesmo de compreensão da verdade.

Essas certezas e seguranças se manifestam no conjunto de verdades em que passamos a acreditar como absolutas e inegociáveis, sem que aceitemos qualquer possibilidade de argumentação em contrário. São moldes que definem nossos pensamentos, e que não nos permitem, sair de seus limites de forma alguma, sob pena de cometermos sacrilégios intelectuais, desvios filosóficos ou pecados mortais. É por isso que pensadores e filósofos, durante tanto tempo, foram demonizados pelo senso comum em igrejas e grupos religiosos os mais variados, dado o perigo que representavam. Afinal, pensar fora das gaiolas incentivarias seus pássaros a voarem ou ansiarem por liberdade.

Fazendo e pensando o que tradicionalmente fizeram e pensaram nossos antecessores, os riscos são sempre menores e os desconfortos são também reduzidos. Construímos com zelo e cuidado a rotina de nossas almas, com o sossego de nossas mediocridades previsíveis e seguras. Preferimos as gaiolas aos voos. E não falo hipoteticamente. Esbarro com isso todos os dias em todos os grupos em que tramito, quer sejam religiosos, políticos, econômicos e sociais. Sim, todos caminham suas trilhas marcadas pelos viajantes da frente. Qualquer caminho pensado, e falo apenas pensado e não necessariamente escolhido, é combatido, morto e enterrado ainda no nascedouro. Não foi mesmo sem motivos a guerra travada pela reforma.

Se refletir sobre os dogmas judaicos da época de Jesus, defendidos com rigor por fariseus e algumas outras seitas, percebemos que serviram como gaiolas que impediram seus líderes religiosos de reconhecerem Jesus como o Messias prometido. Jesus desafiou muitos daqueles dogmas e tradições estabelecidas, oferecendo uma visão alternativa do Reino de Deus e de como as pessoas deveriam se relacionar com Deus. Aqueles líderes religiosos estavam tão presos às suas interpretações rígidas e literais das Escrituras e às suas próprias tradições e algumas conveniências, que não conseguiram reconhecer Jesus como o Messias esperado. Sua resistência em aceitar Jesus como o Cristo de Deus, pode ser vista como uma consequência de estarem presos às gaiolas dos dogmas e tradições, que os impediam de olhar para além de suas próprias expectativas e preconceitos. Ao tentarem aprisionar o Senhor da Vida nas gaiolas dos dogmas, os líderes religiosos acabaram por negar a própria essência da mensagem que Ele trazia, que era de amor, graça e liberdade espiritual.

Ora, seguranças e certezas não rimam com fé, nem tampouco a expressam. Mas sim esperança e convicção. Todos os exemplos bíblicos de fé, apresentam indivíduos que saíram de suas confortáveis condições existenciais. De suas rotinas seguras e de suas certezas convenientemente arraigadas. Abriram mão de suas garantias. Todos se lançaram no vazio das incertezas, tendo apenas a convicção e a esperança de que as gaiolas não eram e nem poderiam ser seus destinos últimos. A única segurança e garantia que possuíam, era a esperança de crer contra a esperança. Lançavam-se ao improvável, tendo como garantia a fidelidade daquele que os impulsionava e que criam conduzi-los.

Antes que alguém me acuse de dizer que ter fé é uma crença vazia, explico. Ao dizer "vazio", expresso aquilo que não é visível, aquilo que não detenho, que não me garante. O vazio do voo se sente e se percebe. Os olhos não comprovam mas o corpo que nele se lança o reconhece e sabe que está ali. A convicção o faz alçar o voo. Aliás, voo só pode ser feito no vazio. Não há como voar através de espaços ocupados por qualquer coisa que possa ser vista ou tocada. A fé não pode ser um espaço ocupado por qualquer coisa que, em lugar de esperança, antes nos seja uma garantia. Mas alguém ainda argumentaria; mas o Espírito não é o penhor, não é a garantia de nossa esperança. Certamente, mas alguém vê o Espírito? Ele então é o nosso vazio em que nada vemos, mas em quem somos plenos de convicção.

A vida cristã não pode ser um emaranhado de certezas e de seguranças concebidas para nos criarem uma sensação de confortável letargia. Estamos o tempo todo sendo sacudidos para fora dessas gaiolas. Enxotados. Para aprendermos a viver no vazio da fé, que se fundamenta inegociável e incondicionalmente, apenas e tão somente, naquilo que eu não vejo, mas que convictamente espero.



[1] Romanos 8:24

Nessa analogia, Paulo destaca a natureza da esperança cristã, que está firmemente baseada em algo que não é visível ou tangível no momento presente, mas que é aguardado com confiança e expectativa.