Revisado
e ampliado em 11/04/2024
Anselmo de Cantuária[1]; 1033 - 1109
Filosofia e Cosmovisão Cristã -
Moreland & Graig - Edições Vida Nova;
Prefácio à edição brasileira
A
cadeira de casa, para ser bem sincero, frequentei pouquíssimos. Em compensação,
a da escola foi uma grande companheira nos primeiros anos da trajetória
escolar. Foi lugar quase cativo para quem, embora não cometesse qualquer
indisciplina grave, não parava de falar durante a aula, atrapalhando
professores e colegas de turma. Essas aventuras duraram até o final da então
quarta série primária, quando nos despedimos da querida tia Terezinha.
Saudades.
Mesmo
que, desde então, nunca mais a tenha frequentado, e ainda que a maturidade me
tenha silenciado um pouco, só um pouco, a verdade é que a cadeira do
pensamento, antes um castigo, tornou-se uma agradável pausa para organizar as
ideias.
É
claro que, como qualquer ser humano, tenho pensamentos espalhados e abandonados
pelos corredores da mente. Mas há também os que latejam na ilusão de serem
organizados em algum momento. Um dia, quem sabe? Desafio que se impõe.
Por
isso estar na cadeira do pensamento tornou-se um hábito que me proporciona
rever atitudes, reformular expressões, pesar decisões, avaliar crenças,
analisar sonhos e medir pretensões. Com o tempo, houvesse ou não lugar onde
sentar, o processo de voltar a fita incorporou-se uma agradável e necessária
rotina; pensar naquilo que penso a todo instante.
Aceito
se alguém disser que pensar no que se pensa equivale a ruminar. Tudo bem,
porque é exatamente esse o princípio; ruminação. Se não me engano, vacas,
girafas e outras espécies realizam esse movimento em seus processos digestivos.
Me perdoem os que se incomodaram com a simplicidade da comparação.
A
verdade é que, pensar no que se pensa nada mais é do que ruminar conceitos,
mastigar muitas vezes um pensamento até que seja totalmente digerido. É trazer
à elucubração toda e qualquer ideia que, para ser plenamente compreendida,
necessite de melhor e mais profunda investigação. É retornar à mente afirmações
que ainda não fizeram sentido, ou questionamentos ainda não respondidos
satisfatoriamente.
Se
quisermos brincar com fogo ou mexermos em casa de marimbondo, podemos
aprofundar a questão, dizendo, a grosso modo, que pensar no que pensamos é o
ato primordial do exercício filosófico. Ou seja, o filósofo é aquele que se
dispõe a pensar naquilo que pensa, ou que pensam, buscando entender por que se
pensa isso em vez daquilo outro, ou porque se pensa em lugar de não se pensar
em nada. O filósofo se dedica a investigar e tentar explicar as grandes
questões da humanidade, pensando profundamente em tudo que popularmente se
pensa superficialmente.
O
exercício filosófico, portanto, a despeito do que se dissemina em diferentes
círculos cristãos, representa a possibilidade de orientar a racionalidade
daquilo em que se acredita, não apagando de jeito algum a fé, mas apontando
para sua motivação e sustento. Tal exercício amplia a compreensão da revelação de
Deus e de sua relação com a humanidade, em contextos e cenários suplementares,
reforçando o entendimento de suas manifestações e de sua condução da história.
O
pensamento, portanto, como instrumento que nos auxilia a compreender tudo
aquilo em que cremos, é extremamente útil e necessário na construção de uma
devoção ainda mais consistente, ampliando, inclusive, o grau de percepção da
vontade de Deus e de sua providência ao longo da existência humana. Logo, a
filosofia, tanto no seu exercício investigativo quanto no âmbito laboral de
suas disciplinas, é de fundamental importância à saúde e vitalidade de uma vida
cristã bem robusta e piedosamente consistente.
“... a nossa
adoração a Deus é mais profunda precisamente em razão de, e não apesar de,
nossos estudos filosóficos... A fé cristã não é uma fé apática, cerebralmente
morta, mas uma fé viva e inquiridora. Como Anselmo propôs, nossa é a fé que
busca compreensão."
Filosofia e Cosmovisão Cristã - Moreland & Graig - Edições Vida Nova
É
necessário, portanto, abandonarmos o hábito recorrente de demonizar o
pensamento e a filosofia. Precisamos deixar de considerar o raciocínio um
perigo, ou um inimigo mortal para a fé. Muito pelo contrário. A fé se fortalece
à medida da descoberta continuada e crescente do amor de Deus e de sua
multiforme graça, manifestada em sua providência que opera invariavelmente em
toda a humanidade.
Precisamos
de uma visão holística e uma conexão eficaz com o mundo real, que influenciem positivamente
a sociedade[5].
Efetivamente sermos luz e não sinônimo de obscuridade. Sermos sal, e não distribuidores
de placebos. E isso, não com acusações, mas com exemplos contundentes de
sabedoria[6]
e amor.
È
hora de trocarmos as críticas por testemunhos consistentes. As frases feitas por argumentos consistentes,
que levem ouvintes e circunstantes à compreensão do amor de Deus manifestado em
Cristo Jesus, nosso Senhor. Afinal, acreditar não me emburrece, assim como pensar não me faz herege.
[1]
Anselmo de Cantuária foi um teólogo, filósofo e arcebispo do século XI,
conhecido por suas contribuições para a teologia cristã e sua defesa do
conceito de expiação substitutiva. Ele é famoso por seu argumento ontológico
para a existência de Deus, além de sua obra "Cur Deus Homo" (Por que
Deus se fez homem), na qual explora o significado da encarnação de Cristo e a
redenção humana. Anselmo foi uma figura importante no desenvolvimento da teologia
medieval e exerceu grande influência sobre o pensamento cristão subsequente.
[2]
Eduardo Prado de Mendonça foi um escritor, político, historiador e diplomata
brasileiro do final do século XIX e início do século XX. Ele é conhecido por
suas obras sobre a história do Brasil, incluindo "A Ilusão Americana"
e "Os Americanos", nas quais analisou a influência dos Estados Unidos
na política e na cultura brasileira. Prado de Mendonça também ocupou cargos
diplomáticos importantes e foi membro da Academia Brasileira de Letras. Sua
obra teve impacto significativo no debate intelectual e político do Brasil
durante sua época.
[3]
Joaquim Cardoso de Oliveira foi um médico, político, escritor, filósofo e
teólogo brasileiro do século XIX. Como médico, contribuiu para o avanço da
medicina no Brasil. Na política, desempenhou papéis significativos, incluindo
sua atuação como deputado e senador. Como escritor, produziu obras que
refletiam sobre questões sociais e políticas do Brasil. Além disso, foi um
teólogo que refletiu sobre temas religiosos e espirituais, contribuindo para o
pensamento teológico brasileiro de sua época. Sua atuação multifacetada o
tornou uma figura influente em diversas áreas do conhecimento e da sociedade
brasileira.
[4]
A assim chamada "cadeira do pensamento" era uma prática disciplinar
comum em algumas escolas brasileiras. Era um lugar designado na sala de aula
onde os alunos que cometiam infrações menores ou perturbavam a aula eram
temporariamente isolados como forma de punição. O aluno sentava-se nessa
cadeira como um símbolo de reflexão sobre seu comportamento inadequado. Era uma
forma de disciplina utilizada pelos professores para manter a ordem na sala de
aula e ensinar aos alunos sobre responsabilidade e consequências de suas ações.
[5]
1 Pedro 3:15
[6]
Provérbios 4:7
Pensar, para os cristãos , é chegar a conclusão que tudo nos leva a um denominador comum, a fé !! Que sem ela, podemos ter qualquer interpretação do que está acontecendo no nosso dia a dia mas o que nos faz realmente acreditar que dias melhores virão , será sempre a fé , que colocamos em ação em nossas vidas e esperamos por Deus , que ele faça a vontade dele em nosso ser.
ResponderExcluirPensar. E o que nos aconselha Filipenses 4:8. "Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai".
ResponderExcluirENTÃO EU PENSO!
Continue assim, Jânsen.
A.: Baixinho
Obrigado querido. Vc é um incentivador contumaz. Que o Senhor o renove em saúde e força, sempre!
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