sábado, 30 de janeiro de 2016

Certezas e Segurança; a fé criada em gaiolas

Por Jânsen Leiros Jr.

Revisado e ampliado em 09/05/2024

 

“Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.

Os homens preferem as gaiolas ao voo. São eles mesmos que constroem as gaiolas onde passarão as suas vidas”

                      Rubem Alves em Religião e Repressão

 

Até hoje, em todos os grupos sociais que frequentei, não encontrei ninguém que dissesse preferir prisão à liberdade. Ser livre é preferência universal. É verdade. A liberdade, que já foi cantada em verso, prosa e samba enredo, sempre esteve entre os mais pretendidos e legítimos anseios do ser humano. Já foi musa de guerras. E por ela legiões intermináveis de pessoas já se sacrificaram. A liberdade é um desejo natural de todo o indivíduo.

Há, porém, armadilhas que volta e meia armamos contra nós mesmos. Elas nos prendem em gaiolas construídas com as sutilezas do conforto, num ambiente de certezas e seguranças que acreditamos ter alcançado, a bem de nossa interminável busca por liberdade. Então o que era para ser um grito de liberdade, torna-se o arfar por um cantinho seguro no fundo dessas gaiolas. A incoerência é mesmo um traço latente em toda a humanidade. Ora, se o que cremos é o que vemos, como esperaremos?[1]

Uma das gaiolas históricas mais comuns são os dogmas, quando vistos, é claro, por uma perspectiva restritiva ou inflexível. Eles podem e de fato limitam o pensamento e restringem a liberdade de reflexão e questionamento. Assim como as gaiolas representam a segurança das certezas estabelecidas, os dogmas podem oferecer uma sensação de estabilidade e conforto para alguns, mas também podem limitar a capacidade de crescimento espiritual e intelectual, impedindo a exploração de novas ideias e perspectivas, ou mesmo de compreensão da verdade.

Essas certezas e seguranças se manifestam no conjunto de verdades em que passamos a acreditar como absolutas e inegociáveis, sem que aceitemos qualquer possibilidade de argumentação em contrário. São moldes que definem nossos pensamentos, e que não nos permitem, sair de seus limites de forma alguma, sob pena de cometermos sacrilégios intelectuais, desvios filosóficos ou pecados mortais. É por isso que pensadores e filósofos, durante tanto tempo, foram demonizados pelo senso comum em igrejas e grupos religiosos os mais variados, dado o perigo que representavam. Afinal, pensar fora das gaiolas incentivarias seus pássaros a voarem ou ansiarem por liberdade.

Fazendo e pensando o que tradicionalmente fizeram e pensaram nossos antecessores, os riscos são sempre menores e os desconfortos são também reduzidos. Construímos com zelo e cuidado a rotina de nossas almas, com o sossego de nossas mediocridades previsíveis e seguras. Preferimos as gaiolas aos voos. E não falo hipoteticamente. Esbarro com isso todos os dias em todos os grupos em que tramito, quer sejam religiosos, políticos, econômicos e sociais. Sim, todos caminham suas trilhas marcadas pelos viajantes da frente. Qualquer caminho pensado, e falo apenas pensado e não necessariamente escolhido, é combatido, morto e enterrado ainda no nascedouro. Não foi mesmo sem motivos a guerra travada pela reforma.

Se refletir sobre os dogmas judaicos da época de Jesus, defendidos com rigor por fariseus e algumas outras seitas, percebemos que serviram como gaiolas que impediram seus líderes religiosos de reconhecerem Jesus como o Messias prometido. Jesus desafiou muitos daqueles dogmas e tradições estabelecidas, oferecendo uma visão alternativa do Reino de Deus e de como as pessoas deveriam se relacionar com Deus. Aqueles líderes religiosos estavam tão presos às suas interpretações rígidas e literais das Escrituras e às suas próprias tradições e algumas conveniências, que não conseguiram reconhecer Jesus como o Messias esperado. Sua resistência em aceitar Jesus como o Cristo de Deus, pode ser vista como uma consequência de estarem presos às gaiolas dos dogmas e tradições, que os impediam de olhar para além de suas próprias expectativas e preconceitos. Ao tentarem aprisionar o Senhor da Vida nas gaiolas dos dogmas, os líderes religiosos acabaram por negar a própria essência da mensagem que Ele trazia, que era de amor, graça e liberdade espiritual.

Ora, seguranças e certezas não rimam com fé, nem tampouco a expressam. Mas sim esperança e convicção. Todos os exemplos bíblicos de fé, apresentam indivíduos que saíram de suas confortáveis condições existenciais. De suas rotinas seguras e de suas certezas convenientemente arraigadas. Abriram mão de suas garantias. Todos se lançaram no vazio das incertezas, tendo apenas a convicção e a esperança de que as gaiolas não eram e nem poderiam ser seus destinos últimos. A única segurança e garantia que possuíam, era a esperança de crer contra a esperança. Lançavam-se ao improvável, tendo como garantia a fidelidade daquele que os impulsionava e que criam conduzi-los.

Antes que alguém me acuse de dizer que ter fé é uma crença vazia, explico. Ao dizer "vazio", expresso aquilo que não é visível, aquilo que não detenho, que não me garante. O vazio do voo se sente e se percebe. Os olhos não comprovam mas o corpo que nele se lança o reconhece e sabe que está ali. A convicção o faz alçar o voo. Aliás, voo só pode ser feito no vazio. Não há como voar através de espaços ocupados por qualquer coisa que possa ser vista ou tocada. A fé não pode ser um espaço ocupado por qualquer coisa que, em lugar de esperança, antes nos seja uma garantia. Mas alguém ainda argumentaria; mas o Espírito não é o penhor, não é a garantia de nossa esperança. Certamente, mas alguém vê o Espírito? Ele então é o nosso vazio em que nada vemos, mas em quem somos plenos de convicção.

A vida cristã não pode ser um emaranhado de certezas e de seguranças concebidas para nos criarem uma sensação de confortável letargia. Estamos o tempo todo sendo sacudidos para fora dessas gaiolas. Enxotados. Para aprendermos a viver no vazio da fé, que se fundamenta inegociável e incondicionalmente, apenas e tão somente, naquilo que eu não vejo, mas que convictamente espero.



[1] Romanos 8:24

Nessa analogia, Paulo destaca a natureza da esperança cristã, que está firmemente baseada em algo que não é visível ou tangível no momento presente, mas que é aguardado com confiança e expectativa.

 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O que pensar de tantos pensamentos?

Por Jânsen Leiros Jr.

Revisado e ampliado em 18/04/2024


“Não havendo sábia direção, toda a nação é arruinada; o que a pode restaurar é o conselho de muitos sábios."
Provérbios 11:14 - KJA

 “O caminho do insensato é reto aos seus olhos; mas o que dá ouvidos ao conselho é sábio."
Provérbios 12:15 - JFA

“A arrogância só produz contendas, mas a sabedoria está com aqueles que buscam conselho."
Provérbios 13:10 - KJA

“Onde não há conselho, frustram-se os projetos; mas com a multidão de conselheiros se estabelecem."
Provérbios 15:22 - JFA

“quem parte para a guerra necessita de orientação estratégica, pois com muitos conselhos se conquista a vitória!"
Provérbios 24:6 - KJA

“Mais vale um jovem pobre e sábio do que um rei ancião e insensato, que em sua arrogância já não aceita mais conselhos."
Eclesiastes 4:13 - KJA

Se conselho fosse bom ninguém dava; vendia, diz a sabedoria popular. E o interessante é que esse adágio[1] serve tanto para aqueles que desejam aconselhar, quanto àqueles que não querem conselho algum. O primeiro o utiliza como introdução ao conselho que pretende dar, quase que pedindo desculpas por se intrometer na vida alheia. Mas o segundo o faz com menos cuidado, às vezes até rispidamente, intimidando o pretenso conselheiro. Principalmente se esse conselho sugerir o contrário do que se pretende. Afinal, é comum aceitarmos de bom grado os conselhos que confirmam nossas inclinações. O contrário, contudo, é bem mais difícil.

Nossa reflexão não pretende concentrar-se no conselheiro. Nem no conselho propriamente dito. Nosso alvo aqui é o hábito de tomar conselhos, de se enriquecer com o máximo de informações e percepções sobre um assunto antes de uma decisão ou posicionamento requerido. Ora, se é verdade que na multidão dos conselhos habita a sabedoria[2], nada mais natural e preferível, que buscar conselhos, ideias e opiniões, antes de qualquer juízo. Mas qual é a conexão entre tomar conselho e o exercício de pensar no que pensamos, ou de pensar no que cremos, ambos tema de nosso último texto aqui no Pensadoria?

Uma das características mais marcantes da filosofia é o seu método. No esforço incansável de buscar respostas para suas questões, chegar a uma resposta definitiva é menos importante que o próprio processo de buscá-la. Sim, pois é exatamente no exercício da investigação, que arde a chama inextinguível do labor filosófico. Isso ocorre em grande medida porque a filosofia não trabalha com verdades absolutas ou acabadas, pois suas afirmações surgem de diferentes e variadas contribuições e experiências, sempre pretendendo-se à universalidade das pertinências e aplicabilidades.

Desse modo, e não havendo por princípio uma verdade absoluta a que alguém possa chegar por observação particular, a investigação de certas questões sempre estará à mercê de sucessivos exercícios reciclagem elucubrativa, alternando os assuntos nos laboratórios da mente, conforme as circunstâncias históricas e sociais que demandem melhores conclusões, posicionamentos ou orientação do pensamento e do senso comum.

Esse perfil da atividade filosófica é milenar. Nas escolas filosóficas da antiguidade, os alunos eram sempre estimulados por seus mestres a buscar entendimentos outros, quer contrários ou divergentes. Em vez de ensinar apenas uma única e absoluta conclusão, os mestres instruíam os discípulos pelo caminho do pensamento só até um determinado ponto. Daí adiante incentivava-os à autonomia de raciocínio, para que fossem experimentados na arte da investigação, suspeitas e conclusões, a partir da problematização proposta. Assim, eram estimulados a discordar e a criticar as conclusões de seus mestres, trazendo novas perspectivas, concepções e possibilidades, contribuindo sempre para compreensões mais assertivas, aceitáveis e satisfatórias.

Ora, no mundo das ideias[3], o lugar no tempo não limita e muito menos impede o debate entre os pensadores de diferentes momentos da história universal. Quer contrariando, quer corroborando, pensadores se sucedem na tarefa de trazer às suas ágoras[4] contemporâneas, questões que serão discutidas livremente por diversos filósofos, quer estejam ou apenas se façam presentes por intermédio de suas obras, registros ou tradição oral que lhes sejam atribuídas. Temos assim uma verdadeira academia do pensamento[5], onde a sociedade pode se aconselhar com as contribuições acumuladas desde eras remotas, mas que nem por isso inadequadas ou caducas pelo tempo.

Os conselhos a que me refiro são contrapostos, criticados, discutidos e comentados. Quer aceitos na íntegra ou em partes, ou mesmo rejeitados por completo, todos inexoravelmente servirão de parâmetros que orientarão o pensamento humano pela história, em suas demandas por conhecimento e direcionamento existencial. A cada fase da história, novos membros se juntarão a essa academia do pensamento, enriquecendo todo e qualquer debate e contribuindo para visões cada vez mais adequadas à contemporaneidade do debate mais recente.

Não obstante a costumeira demonização da atividade pensante no que se refere à investigação das razões de nossa fé, penso mesmo que na multidão dos conselhos habita a sabedoria. Ou seja, quanto mais rodeado de conselhos, quanto mais enriquecido pela atividade do pensamento humano, quer para confirmá-lo, quer para rejeitá-lo, tanto mais consistentes será minha argumentação e conclusão, uma vez que fruto de conclusão robusta, não oriunda de uma mímica conveniente e oportuna qualquer, mas nascida de atividade responsável e diligente; a renovação do nosso entendimento, para entendermos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus[6].

A essa altura, muitos já devem ter torcido o nariz. Mas haverá até quem rasgue as próprias vestes. Porque o questionamento, bem como a confrontação de ideias e visões de mundo, são, em tese, os melhores e mais bem-sucedidos métodos de aprofundamento do conhecimento, qualquer que seja a disciplina ou ciência na qual esteja inserido. Inclusive na teologia. Ou não foi assim que avançou a revelação de Deus ao longo da história da humanidade, mais particularmente na história de Israel?

O questionamento das tradições judaicas, bem como a confrontação dos costumes religiosos de escribas e fariseus, estão espalhados por todo o relato dos Evangelhos. As ideias convenientemente elaboradas e firmadas sobre o que era religiosidade da época, davam àquela elite religiosa uma confortável condição de destaque, concedendo prestígio e acumulando-lhes vantagens oportunas. Mas Jesus lhes questionava a pertinência dos hábitos e a natureza das intenções. Ele confrontava repetidamente tanto a superficialidade de seus ritos, quanto a realidade maliciosa de suas pretensões. Não foi sem motivo que esses profissionais da religião e aproveitadores da boa fé do povo, foram chamados, sem hesitação, de hipócritas[7] e de sepulcros caiados[8], dado o fingimento com que se apresentavam como piedosos e probos religiosos.

Paulo não agiu muito diferente do Senhor. Toda sua teologia, em flagrante construção ao longo de suas viagens e traduzidas em suas cartas, é fruto do questionamento e da confrontação. O embate colocava frente a frente tudo o que até então se acreditava, e aquilo que se revelava verdadeiro diante de seus sentidos, à medida que sua experiência de vida regenerada lhe promovia novas percepções sobre a relação de Deus com a humanidade, em Cristo e pelo Espírito. Confrontando ideias e questionando a si mesmo, aquele zeloso judeu que consentiu na morte de Estevão por alegada blasfêmia, e empreendeu viagem para prender e julgar os seguidores de Jesus, tornou-se o principal expoente de pregação da salvação, sendo o principal evangelizador entre os gentios, povo de extenso sincretismo e ideias sobre o divino.

Ora, é preciso sair do casulo. Abrir os olhos. Tomar conselho com a vida e suas potencialidades. Rasgar as receitas de existências pré-moldadas e se lançar às experiências enriquecedoras que a relação com Deus e com as pessoas que nos cercam são capazes de produzir. Precisamos correr o risco do inédito. Prestar um culto racional pela transformação da nossa mente. Sim, é na mente que são produzidas as ideias. É na mente que se armazena o entendimento. Se é verdade que não cremos por entendemos, é por entendermos que sustentamos e enriquecemos nossa relação com Deus e somos renovados em nossas inclinações e conduta.

 “Um homem sábio é poderoso, e quem possui entendimento potencializa sua força;"

Provérbios 24:5 - KJA

Portanto, reitero o convite. Leia, ouça, assista, debata, pergunte e questione. Leia incessantemente sua Bíblia e abra espaço para outras literaturas. Ouça louvores e adore a Deus com inteireza de coração, mas não deixe de ouvir poesia e cantar a vida em verso e prosa. Assista na TV seus programas prediletos e não perca a oportunidade de analisá-los, comentá-los e fazer juízo deles; a ficção ajuda a debater o mundo real.

O que entende e conhece, ensine; o que não compreende, questione. Se ainda não sabe, pergunte. Se não ouviu, peça pra repetir. Examinai tudo[9], diria Paulo, e tudo é tudo. Retenhamos o que é bom. Mas como reter se não examinar? Mente vazia, diria minha avó, é oficina... dele. Você sabe quem.



[1] Um adágio é um provérbio, uma expressão curta que transmite um conselho ou uma lição moral de forma concisa e memorável. Geralmente, os adágios são baseados na sabedoria popular e são transmitidos oralmente de geração em geração. Eles são frequentemente usados para expressar verdades universais sobre a vida, comportamento humano, ética, entre outros temas.

[2] Provérbios 11:14

[3] O "mundo das ideias" é um conceito filosófico atribuído a Platão, um dos mais influentes filósofos da Antiga Grécia. Segundo Platão, o mundo das ideias, ou mundo das formas, é um reino transcendental e eterno, onde residem as formas perfeitas e imutáveis de todas as coisas que percebemos no mundo sensível.

No mundo das ideias, as coisas não são percebidas pelos sentidos ou pela experiência sensorial, mas são compreendidas pela mente racional. Para Platão, as coisas no mundo sensível são apenas cópias imperfeitas das formas ideais que existem no mundo das ideias. Por exemplo, um objeto físico como uma mesa no mundo sensível é uma cópia imperfeita da forma ideal de "mesa" que existe no mundo das ideias.

Platão acreditava que o conhecimento verdadeiro só poderia ser alcançado por meio da contemplação das formas ideais, através do intelecto, e não pela observação empírica do mundo físico. Essa distinção entre o mundo das ideias e o mundo sensível é fundamental na filosofia platônica e teve um grande impacto no desenvolvimento da filosofia ocidental.

 

[4] Uma "ágora" era uma praça pública na Grécia Antiga, frequentemente localizada no centro das cidades, onde os cidadãos se reuniam para realizar atividades políticas, comerciais, sociais e culturais. Era um espaço fundamental na vida das cidades-estado gregas, como Atenas.

Na ágora, os cidadãos discutiam assuntos políticos, participavam de assembleias, votavam em questões importantes, faziam negócios, assistiam a apresentações teatrais e participavam de eventos religiosos. Era o centro da vida pública e da democracia direta grega, onde os cidadãos podiam expressar suas opiniões e influenciar as decisões da cidade.

O termo "ágora" também é usado metaforicamente para se referir a qualquer espaço de encontro público ou debate, onde as pessoas se reúnem para discutir questões importantes ou participar de atividades comunitárias.

[5] Uma "academia do pensamento" é uma expressão que geralmente se refere a um ambiente intelectual onde ocorrem debates, discussões e reflexões sobre uma variedade de temas, muitas vezes de natureza filosófica, científica, cultural ou política.

Essas "academias" podem assumir diferentes formas e contextos. Em um sentido mais amplo, uma academia do pensamento pode ser uma universidade, instituto de pesquisa, centro de estudos, ou até mesmo um grupo informal de pessoas que se reúnem para discutir ideias.

[6] Romanos 12:2

[7] Jesus chama os fariseus de hipócritas em várias passagens nos Evangelhos. Aqui estão algumas referências:

1.       Mateus 23:13: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando."

2.       Mateus 23:14: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo."

3.       Mateus 23:15: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós."

4.       Mateus 23:23: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas."

5.       Mateus 23:25: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniqüidade."

6.       Mateus 23:27-28: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade."

 

[8] Mateus 23:27-28

[9] 1 Tessalonicenses 5:21

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Cadeira de Pensar - Uma introdução

 Por Jânsen Leiros Jr.

Revisado e ampliado em 11/04/2024

 “Não estudamos para crer. Estudamos porque cremos."

Anselmo de Cantuária[1]; 1033 - 1109

        

 “...é preciso "salvar a alma e a mente". A conversão não dissocia os aspectos espiritual e mental. Se por um lado, "O mundo precisa de filosofia", como afirmou o filósofo Eduardo Prado de Mendonça[2], por outro, como disse o teólogo Joaquim Cardoso de Oliveira[3], "O mundo necessita urgentemente de teologia"... Precisamos integrar filosofia e teologia.”

Filosofia e Cosmovisão Cristã - Moreland & Graig - Edições Vida Nova;

Prefácio à edição brasileira

 "Não faz muito tempo... Pensando bem, faz sim. Mas não importa. A verdade é que ainda vive forte em minhas lembranças a quantidade de vezes que fui parar na cadeira do pensamento[4]. E eu tinha duas. Uma em casa e outra na escola.

A cadeira de casa, para ser bem sincero, frequentei pouquíssimos. Em compensação, a da escola foi uma grande companheira nos primeiros anos da trajetória escolar. Foi lugar quase cativo para quem, embora não cometesse qualquer indisciplina grave, não parava de falar durante a aula, atrapalhando professores e colegas de turma. Essas aventuras duraram até o final da então quarta série primária, quando nos despedimos da querida tia Terezinha. Saudades.

Mesmo que, desde então, nunca mais a tenha frequentado, e ainda que a maturidade me tenha silenciado um pouco, só um pouco, a verdade é que a cadeira do pensamento, antes um castigo, tornou-se uma agradável pausa para organizar as ideias.

É claro que, como qualquer ser humano, tenho pensamentos espalhados e abandonados pelos corredores da mente. Mas há também os que latejam na ilusão de serem organizados em algum momento. Um dia, quem sabe? Desafio que se impõe.

Por isso estar na cadeira do pensamento tornou-se um hábito que me proporciona rever atitudes, reformular expressões, pesar decisões, avaliar crenças, analisar sonhos e medir pretensões. Com o tempo, houvesse ou não lugar onde sentar, o processo de voltar a fita incorporou-se uma agradável e necessária rotina; pensar naquilo que penso a todo instante.

Aceito se alguém disser que pensar no que se pensa equivale a ruminar. Tudo bem, porque é exatamente esse o princípio; ruminação. Se não me engano, vacas, girafas e outras espécies realizam esse movimento em seus processos digestivos. Me perdoem os que se incomodaram com a simplicidade da comparação.

A verdade é que, pensar no que se pensa nada mais é do que ruminar conceitos, mastigar muitas vezes um pensamento até que seja totalmente digerido. É trazer à elucubração toda e qualquer ideia que, para ser plenamente compreendida, necessite de melhor e mais profunda investigação. É retornar à mente afirmações que ainda não fizeram sentido, ou questionamentos ainda não respondidos satisfatoriamente.

Se quisermos brincar com fogo ou mexermos em casa de marimbondo, podemos aprofundar a questão, dizendo, a grosso modo, que pensar no que pensamos é o ato primordial do exercício filosófico. Ou seja, o filósofo é aquele que se dispõe a pensar naquilo que pensa, ou que pensam, buscando entender por que se pensa isso em vez daquilo outro, ou porque se pensa em lugar de não se pensar em nada. O filósofo se dedica a investigar e tentar explicar as grandes questões da humanidade, pensando profundamente em tudo que popularmente se pensa superficialmente.

O exercício filosófico, portanto, a despeito do que se dissemina em diferentes círculos cristãos, representa a possibilidade de orientar a racionalidade daquilo em que se acredita, não apagando de jeito algum a fé, mas apontando para sua motivação e sustento. Tal exercício amplia a compreensão da revelação de Deus e de sua relação com a humanidade, em contextos e cenários suplementares, reforçando o entendimento de suas manifestações e de sua condução da história.

O pensamento, portanto, como instrumento que nos auxilia a compreender tudo aquilo em que cremos, é extremamente útil e necessário na construção de uma devoção ainda mais consistente, ampliando, inclusive, o grau de percepção da vontade de Deus e de sua providência ao longo da existência humana. Logo, a filosofia, tanto no seu exercício investigativo quanto no âmbito laboral de suas disciplinas, é de fundamental importância à saúde e vitalidade de uma vida cristã bem robusta e piedosamente consistente.

“... a nossa adoração a Deus é mais profunda precisamente em razão de, e não apesar de, nossos estudos filosóficos... A fé cristã não é uma fé apática, cerebralmente morta, mas uma fé viva e inquiridora. Como Anselmo propôs, nossa é a fé que busca compreensão."

 

Filosofia e Cosmovisão Cristã - Moreland & Graig - Edições Vida Nova

É necessário, portanto, abandonarmos o hábito recorrente de demonizar o pensamento e a filosofia. Precisamos deixar de considerar o raciocínio um perigo, ou um inimigo mortal para a fé. Muito pelo contrário. A fé se fortalece à medida da descoberta continuada e crescente do amor de Deus e de sua multiforme graça, manifestada em sua providência que opera invariavelmente em toda a humanidade.

Precisamos de uma visão holística e uma conexão eficaz com o mundo real, que influenciem positivamente a sociedade[5]. Efetivamente sermos luz e não sinônimo de obscuridade. Sermos sal, e não distribuidores de placebos. E isso, não com acusações, mas com exemplos contundentes de sabedoria[6] e amor.

È hora de trocarmos as críticas por testemunhos consistentes. As frases feitas por argumentos consistentes, que levem ouvintes e circunstantes à compreensão do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor. Afinal, acreditar não me emburrece, assim como pensar não me faz herege.



[1] Anselmo de Cantuária foi um teólogo, filósofo e arcebispo do século XI, conhecido por suas contribuições para a teologia cristã e sua defesa do conceito de expiação substitutiva. Ele é famoso por seu argumento ontológico para a existência de Deus, além de sua obra "Cur Deus Homo" (Por que Deus se fez homem), na qual explora o significado da encarnação de Cristo e a redenção humana. Anselmo foi uma figura importante no desenvolvimento da teologia medieval e exerceu grande influência sobre o pensamento cristão subsequente.

[2] Eduardo Prado de Mendonça foi um escritor, político, historiador e diplomata brasileiro do final do século XIX e início do século XX. Ele é conhecido por suas obras sobre a história do Brasil, incluindo "A Ilusão Americana" e "Os Americanos", nas quais analisou a influência dos Estados Unidos na política e na cultura brasileira. Prado de Mendonça também ocupou cargos diplomáticos importantes e foi membro da Academia Brasileira de Letras. Sua obra teve impacto significativo no debate intelectual e político do Brasil durante sua época.

[3] Joaquim Cardoso de Oliveira foi um médico, político, escritor, filósofo e teólogo brasileiro do século XIX. Como médico, contribuiu para o avanço da medicina no Brasil. Na política, desempenhou papéis significativos, incluindo sua atuação como deputado e senador. Como escritor, produziu obras que refletiam sobre questões sociais e políticas do Brasil. Além disso, foi um teólogo que refletiu sobre temas religiosos e espirituais, contribuindo para o pensamento teológico brasileiro de sua época. Sua atuação multifacetada o tornou uma figura influente em diversas áreas do conhecimento e da sociedade brasileira.

[4] A assim chamada "cadeira do pensamento" era uma prática disciplinar comum em algumas escolas brasileiras. Era um lugar designado na sala de aula onde os alunos que cometiam infrações menores ou perturbavam a aula eram temporariamente isolados como forma de punição. O aluno sentava-se nessa cadeira como um símbolo de reflexão sobre seu comportamento inadequado. Era uma forma de disciplina utilizada pelos professores para manter a ordem na sala de aula e ensinar aos alunos sobre responsabilidade e consequências de suas ações.

[5] 1 Pedro 3:15

[6] Provérbios 4:7